segunda-feira, 7 de julho de 2008

Triste, tocante

Falava com os meus progenitores de tempos idos, de amigos passados, de bons momentos vividos. É sempre bom recordar. Mesmo que esses tempos para mim se difundam no nevoeiro das lembranças que tenho de ainda pequeno. Lembro-me de pessoas, coisas e lugares, mas não com a nitidez que com o passar dos anos as memórias se vão afincando teimosamente a nós.

Como as conversas são como as cerejas, acaba-se sempre por falar da vida e de quem ainda pisa a face da terra e dos outros que já foram contribuir para que a crosta terrestre continue a alimentar as árvores e toda a espécie de flora que nela cresce. Indirectamente, nós também. E num desses momentos...

Recordou-se um amigo que me recordo vaga mas firmemente, pelo bom espírito e doideiras fazia, sempre bem disposto e na brincadeira, que teve a infelicidade de ver falecer um filho pequeno. Mais pequeno do que eu, na altura.

Dessa conversa, o instante que mais me tocou foi relatarem-me o que a mãe do pequeno, disse à minha mãe, no funeral: E quando o meu filho morreu, peguei nele ao colo e fui levá-lo à enfermaria, para não assustar os outro meninos.

Não sendo eu pai (mãe nunca serei, mas talvez os laços sejam ainda mais fortes) e não tendo o sabor e o saber de o ser, senti que nunca ninguém no mundo deveria passar por tal infelicidade! Nunca! E, num momento destes, ainda alguém ter o cuidado de pensar nos outros, de querer para eles o que queria para si e os seus e ter o cuidado de não assustar os outros meninos que estavam na mesma enfermaria!

Fartei-me de chorar.

Sem complexos. Nem vergonha. Nem tentativa de suster o que sentia.

Sim, os homens também choram.

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