domingo, 25 de maio de 2008

Um complicado entrançado energético

Por este ou por aquela razão, não me tem apetecido escrever.

Ao contrário do último post que aqui coloquei, não tenho andado muito lá por fora. Ou melhor tenho, mas abrigado da chuva e o indispensável para as movimentações do dia-a-dia, quase.

Confesso que o preço da gasolina e as dívidas recentes que ainda teimam em estar no estado “por liquidar” me têm inibido ainda mais do que a chuva. O combustível a 300 escudos / 1,5€ o litro dá cabo de qualquer orçamento! Neste ponto tenho saudades da semana que andei por Espanha. Sem chumbo 95 a 1,190€ o litro foi o máximo que paguei e foi num posto mesmo junto à fronteiro de Quintanilha, em que exclusivamente se via matriculas portuguesas e em que inclusive os funcionários eram todos portugueses. Noutros pontos também tenho saudades de Espanha, mas isso levaria a grande prosa e listagem de argumentos. Talvez noutra altura.

O único pensamento que me lembro de ter tido, ainda assim tão desinteressante como todos os outros, foi sobre escadas rolantes. Sim. Mesmo. E até poderá estar relacionado com o aumento dos combustíveis e o consumo desmesurado de energia por parte da humanidade (interessante este chavão que excluí os países em vias de desenvolvimento que pouco ou nada gastam de bens, energia ou alimentos).

Em todos os edifícios mais recentes, existem elevadores, passadeiras ou escadas rolantes. Em alguns deles são bens eminentemente necessários e indispensáveis, noutros tantos serão luxos esbanjadores de energia.

Porque é que ao invés de termos passadeiras rolantes para nosso belo prazer e para não mexermos os nossos pezinhos, não temos rampas normais, de cimento ou outra qualquer cobertura moderna? Assim vamos a deslizar por ali abaixo, calmamente, sem qualquer esforço... E as escadas? Porque é que são rolantes? Não podemos, ou será um esforço desmesurado, por um pé à frente do outro, força nas pernas e irmos descendo ou subindo os degraus que se nos deparam à nossa frente? Mesmo que existissem apetrechos rolantes, porque é que não os descemos à mesma, com ganhos enormes na velocidade com que o fazemos?

Tudo isto se move a energia. Eléctrica, maioritariamente. E de onde vem essa energia? Maioritariamente da queima de combustíveis fosseis, carvão e petróleo. Temos barragens, eólicas, energia solar, mas são ainda residuais na imensidão de unidades de medida de energia que produzimos todos os dias.

Ora também nos continuamos a alimentar como se fossemos correr a maratona, todos os dias. Não ligamos se vamos de carro para tal sítio ou se planeamos correr a meia maratona de Lisboa. Não queremos saber se vamos subir as escadas até ao 7º andar direito ou se apanhamos o elevador nas 15 vezes que descemos ao nível da rua. Se pensamos muito ou pouco e temos que alimentar as descargas eléctricas entre as células cerebrais, passa igualmente ao lado no cálculo da dose de alimentos que ingerimos. Conteúdo os alimentos que ingerimos são para nos dar energia que utilizamos para viver, escrever posts em blogs (interessantes ou não) ou meramente para aproveitarmos o descanso proporcionado pelos apetrechos rolantes do nosso edifícios.

Contra-senso dos contra-sensos, estamos a esbanjar dois tipos de energia. A eléctrica que produzimos e a que retiramos dos alimentos que ingerimos.

Não admira que hoje em dia toda a nossa existência se baseie na energia. Tudo o que construímos necessita dela, mas se por um lado nos continuamos a alimentar alarvemente para continuar a nossa existência como se fizéssemos tudo por nós, no outro extremo temos todas as comodidades recentes que nos privam do gasto de energia que existiu quando os nosso avós andavam pelas serras a guardar rebanhos, cortar mato ou lenha ou a palmilhas as longas e difíceis distancias entra a aldeia e a vila mais próxima, por ocasião do mercado sazonal.

Enquanto descia calmamente sobre uma passadeira rolante, sem sequer me mexer, lá gastei um pouco mais de energia tendo este pensamento. Serviu para me sentir menos frustrado por o ter tido. Se bem que logo a seguir me pus em movimento e desprezei as escadas que me surgiram uns passos mais à frente, o défice de energia continua a ser significativo. A que produzi ingerindo alimentos não a vou largar tão facilmente (que digam os pneus que teimam em existir) e a energia que alimentou as escadas, foi perdida inutilmente, para todo o sempre.

Fundamentalista como sou, resolvi encetar uma guerra silenciosa e pacífica, contra todas estas modernices. Continuarei a usar o elevador para subir até ao 7º direito, fora isso, passarei ao lado o maior número de vezes que conseguir.

Força nas pernas! Movimento nos pés! Abaixo o gasto inútil, duplicado e evitável de energia!

terça-feira, 6 de maio de 2008

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Afinal...

Há uns meses atrás, estava eu a catalogar as minhas fotos no Flickr, nos sets e ou grupos correctos e recebi uma mensagem de um utilizador. Recebo algumas, com convites para me juntar a grupos, frequentemente, ou com qualquer outro assunto, dicas de fotos, discussão de outros pontos, menos frequentemente. Nesse dia a mensagem era diferente...



Era um pedido, de alguém da Republica Checa, de uma foto que eu tinha publicado no site, de um melro (Turdus merula), para ser utilizada num livro de histórias com um preço simbólico de pouco mais de €1, para ajudar alguns países da África Central, na protecção dos gorilas selvagens. Baseia-se na história de dois pequenos gorilas do Zoo de Praga e pretende mostrar que, embora os gorilas sejam um pouco diferentes das pessoas, merecem todo o nosso respeito, consideração e protecção.

Até me mandou um endereço, para ver do que se tratava: http://www.rozhlas.cz/unmasking/

Ao ler aquilo, fiquei sem saber o que pensar... Será verdade? Anda por aí tanta gentalha a tentar aproveitar-se de meio mundo para fins menos meritórios... Juntei um pouco da minha desconfiança natural e fiquei de pé atrás, apesar de ser só uma foto que eu tinha tirado e com a qual nada iria fazer ou alcançar, tirando o gozo que me tinha dado tirá-la.

Respondi a dizer que tudo bem que apesar daquilo tudo poder ser uma grande história e tudo mentira, como o fim, a ser verdade, era importante, que iria doar a foto. Bastava mandarem-me o correio electrónico para enviar o exemplar sem tratamento e com a melhor qualidade possível. A minha única exigência, era publicarem o autor da foto e enviarem-me um livro para ver o resultado final. Acho que era justo, não?

Passaram-se alguns dias e nada de respostas... Comecei a pensar que ser um pessimista dá mau resultado, que a minha desconfiança tinha afastado a pessoa do outro lado ou que afinal não seria assim tão sério o assunto. Olha ainda não é desta, pensei, que vou utilizar algumas das minhas fotos que não para mostrar aos amigos e ou família ou colocar no Flickr.



Mas a resposta lá acabou por chegar. Que apesar de não irem utilizar a minha foto, como tinham apreciado o meu gesto e, uma vez que o livro já estava pronto, para eu enviar o endereço para receber uma cópia. Ainda respondi a dizer que não valia a pena, mas perante a insistência, lá enviei o endereço. Desconfiado, segue o do trabalho, pensando que poderia ser uma maneira de sacar informações de onde vivia ou isso e que nada iria receber.

Mas recebi! Passada uma semana se tanto, lá vem uma correspondência, remetida da Republica Checa à minha pessoa, com um livro lá dentro, com a história relatada, etc. Tudo certinho como me tinham dito, sem nada de outros interesses ou assuntos menos claros. Dois sentimentos contraditórios me ocorreram naquele instante.

Um de pena por ter que desconfiar das situações mais corriqueiras da vida. A Internet é um mundo dentro do nosso mundo e nunca se sabe quem é que está do outro lado e as suas intenções ou objectivos.

Por outro lado o de saber que afinal ainda há uma réstia de esperança para este nosso mundozinho cruel e mesquinho. Como ainda se podem encontrar pessoas sinceras e desinteressadas, verdadeiras e caridosas e que merecem o nosso respeito e são exemplo para todos nós.

Não cheguei a participar com nada, mas sinto-me contente e orgulhoso de toda esta história e de ter sido interveniente nela, Talvez o mais pessimista, desconfiado e descrente num desfecho como o que acabou por ter, mas apesar de um pormenor insignificante no mundo agitado e de macro dimensões e inúmeros acontecimentos simultâneos globais, a “minha” história foi bonita, foi simples e foi importante. Alguém reparou em mim entre tantos, alguém achou que entre multidões eu poderia ter valor, alguém sentiu que poderia contar comigo para ajudar, alguém achou que mesmo não ajudando mereceria o mesmo respeito que quem ajudou, alguém entendeu que me deveria de recompensar as respostas que tinha dado e isso é tudo. É tudo. Basta para ser um acontecimento simples, mas marcante para mim.



E no fim de tudo, aqui está “o meu” livro: http://www.rozhlas.cz/unmasking/comments/_zprava/449406