Cão que ladra não morde, sempre disseram e eu, bom cão que sou, só ladro um pouco, não mordo nada. Mais, só ladro aos que passam, não aos que por ventura param com o meu ladrar. Não têm mesmo razão para se assustarem; mais vos digo que os dentes são rombos, a visão fraca e o medo de levar um biqueiro, enorme, pelo que mesmo que tivesse ganas de morder, por engano, por uma vez que fosse, acho que nunca conseguiria. Ainda assim e como me está nos genes, ladro, ladro sem parar.
No outro dia rosnava sobre o estado das coisas. Nada disto é novidade, porque muitos rosnam sobre isto, mesmo humanos, poucos mordem por isto; lá está, sou só mais um na matilha e nem dos pioneiros, dos que mordem a torto e a direito quem à frente se põe, sou ou me sinto.
Mas dizia eu que rosnava. Não porque sim, mas porque sentia que tinha que o fazer. Sinto que o rumo das coisas está feio. O meu dono já não me faz festas quando chega a casa. Tarde, cada vez mais tarde. Sem paciência, com muito pouco paciência, cada vez menos paciência. Interrogo-me sobre o porquê da minha existência? Se sempre fui o melhor amigo do homem, porque é que o deixei de ser agora, de repente? E não é só o meu dono; noto agressividade e alheamento, desinteresse talvez, dos que por mim passam na rua. Pergunto-me porquê; deixei de ter interesse?
Um dia resolvi ir ter com o mundo.
Dizem que é cão, perceber-me-ia de certeza.
Continuo a caminho, vou vendo, elaboro novas perguntas. Pode ser que me consiga responder. Quando o encontrar. Se o encontrar. Se calhar, penso, tenho procurado no sítio errado!
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Mundo cão
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