É parar-se na rua para cumprimentar quem não se conhece e passar uma tarde inteira à conversa, versando sobre assuntos que nunca imaginamos conseguir alimentar uma conversa, durante tanto tempo, com tanto interesse.
É lançar-se algo à terra só porque sim, para não se perder tudo e seja o que Deus quiser, logo se vê o que dá e, meses depois, sem ter tido qualquer atenção ou trabalho, recolher, recolher, recolher, conseguir com isso jantar e ainda sobrar para mais refeições.
É conseguir sentir o sabor bom das coisas da terra, da diferença das coisas de lá e de cá, dos supermercados, plásticas e adulteradas, apenas pelo lucro de alguém.
É subir um caminho íngreme e sentir o vento fresco e limpo, em pleno verão, sem escapes, sem stress, tendo todo o tempo para o saborear e, saber que no dia seguinte assim será novamente. E depois e no outro novamente, ciclicamente, sem parar, numa perfeição que assusta e conforta.
É mergulhar as mãos em concha a um riacho e poder beber sofregamente, sem o medo de nada, com a certeza de que mais puro não há, sem ter que, em troca de matar a essencial sede, dar uns euros.
É deitar na serra, numa noite escura e observar, apenas acompanhado pela brisa e cantar dos grilos, o céu estrelado, os planetas, ver estrelas cadentes e pedir desejos com a fé inabalável de que se vão realizar e ter a via láctea como testemunha única.
É ver o crescimento das árvores, vê-las ultrapassar o plantador, vê-las fortalecerem-se ano após ano e retribuírem assim o carinho e atenção que lhes damos, como o bem mais precioso que existe, sem olhar a medidas: deste-me pouco, dar-te-ei muito!
É ouvir dos antigos ensinamentos perdidos que nunca chegarão às cidades, que apenas persistiram nos vales e socalcos que vemos e que aprendemos a amar, pelas histórias, pelo esforço, pela admiração de sermos filhos de uma terra árdua, dura e inóspita, mas que sempre soube recompensar a dedicação e o esforço dos nossos antepassados e, agora, nosso.
É ter saudades do folclore e dos bailaricos, independentemente de os conseguir apreciar ou dançar convenientemente, pela tradição, pela partilha, pela saudade do calor das gentes do campo, do seu cheiro, de as sentir nos braços enquanto se dança.
É vir embora de tudo isto e sentir um aperto enorme, uma vontade inabalável de ficar, de ser, ali, só ali, um dia, todos os dias. Aquilo que ouvimos, vemos, aprendemos e sentimos, deixar ficar para quem virá e, como nós fizemos, aprendam a amar aquele cantinho, por tudo, por ele apenas e pelo que nos dá despretensiosamente.
É chegar à cidade e estar preocupado se chove ou não, porque se adubou as árvores e uma chuvinha vinha mesmo a calhar, apesar de provavelmente chegar encharcado ao trabalho ou ir agravar as infiltrações que teimam em vencer o betão e tijolo lá do prédio.
É muito mais, sentir-se muito mais do que isto mas por simplicidade, por incapacidade, por rudeza, por defeito, não se conseguir palavras bonitas nem frases elaboradas para o fazer: passem por lá, apaixonem-se e sintam!
terça-feira, 30 de junho de 2009
Ruralidades
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