terça-feira, 11 de maio de 2010

Às vezes, sinto vergonha...

... de mim, de nós, do meus país, das nossas atitudes e mentalidade.



A ida ao City Classic Alvalade ver o PARE, ESCUTE, OLHE foi só mais um pretexto para sentir isto. Sentir o que não queria nada sentir e lamentar que este cantinho da Europa, cheio de potencialidades, outro tanto de gente boa, mais um punhado de gente valente, capaz, esforçada, seja gerido, por estes políticos e habitado por este povo, por esta massa. Às vezes penso como seria isto tudo com outros... personagens...

É vergonhosa a impunidade com que se decidem coisas. É calamitoso como se decide recorrendo a critérios duvidosos e suspeitos. É lamentável que passe sempre incólume quem faz, o que se faz e ou como se faz. É ultrajante sentir a pressão cada vez maior sobre o património, sobre as pessoas, sobre o que não interessa ou conta para os interesses, negócios, dizem, progresso.

Sobre a linha do Tua há que dizer que o desfecho previsível - apesar de indesejável - desta história a todos nós se deve. À nossa indiferença, ao nosso desinteresse, à distância que nos é dada a parecer - entre os "grandes" centros urbanos portugueses e a tal linha perdida no meio dos vales do Douro, longa é a viagem, acreditamos. Afinal, está a 4 horas de viagem de Lisboa e a pouco mais de metade disso, do Porto.

Porque não passar por lá para verificar o que todos estamos a perder? Porque não ver o que tanto se fala, para verdadeiramente sentir o vale, a linha, o vale do Douro - classificado pela Unesco como património da humanidade - e o "interior distante"? Porque não, por um fim de semana que seja, abandonar os centros comerciais, os cinemas e as exposições, a cultura urbana e visitar o nosso património cultural, natural, rural? Porquê votar a um triste destino o que não se conhece? Porquê ditar o distanciamento do nosso interior, Trás-os-Montes, Beira Interior, Alentejo, em relação ao país urbano, desorganizado e cinzento? Para quê? Não resultou até agora, porque teimamos em insistir nisto?

Se queremos barragem, sim, mas queremos linha também. Se isso implica quota máxima ou mínima, não sei, não sou especialista, mas sei que muito investimento se tem feito em energia eólica, outro tanto em barragens, mais um pouco em dotar o país com centrais termo-eléctricas mais rentáveis, com maior rendimento, não poderemos passar sem esta barragem? Se não conseguirmos passar sem ela, não a podemos fazer noutro local? O vale do Douro é património da humanidade - por curiosidade: Lista do Património Mundial em Portugal - e não um acidente geográfico qualquer que tem um rio a correr, ao fundo!

Na lista em cima, se tiveram curiosidade em ir ver, reparam que as gravuras rupestres do Vale do Côa, um outro rio na região, um outro vale da região classificada do Alto Douro Vinhateiro, um outro património cultural, também estão classificadas e, perante elas, "perdemos" uma barragem. Porque é a linha do Tua é menos importante?

Um pouco da (muita) história desta linha, pode ser vista aqui.

Já há muito acompanho este blog, mas o PARE, ESCUTE, OLHE só me veio espicaçar ainda mais a insatisfação perante este país que não é o meu país, perante um país que sinto a saque, sem rei nem roque, sem lei, sem rumo, sem coesão que nos faça andar e que nos empurre no sentido... num sentido.

Não vão desperdiçar o vosso tempo a ir ao cinema ver, enquanto ainda está em exibição, o PARE, ESCUTE, OLHE e sintam, formem opinião, vejam o que todos estamos a perder. Indignem-se da mesma forma que faz um transmontano e que, acredito, todos aqueles que já o foram ver e dêem um primeiro, pequeno mas confortável e indolor passo: assinem esta petição, mostrem que não querem este futuro para um património valioso e que é de todos nós.



A linha (também) é tua e uma vez perdida, será para sempre!