sexta-feira, 21 de novembro de 2008

20 minutinhos apenas

Para mostrar que não gosto assim tanto de americanos.

Ergo as minhas mãos porque vejo mudanças no seio da sociedade bronca e desleal que construíram e impingiram ao resto do mundo, como ideal.

Vale a pena ver, digo eu...

http://www.storyofstuff.com/

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A Manela e a ditadura

Por cá preocupamo-nos com o que uma líder da oposição diz num seu discurso. Mas não com a afirmação no contexto em que ela a quis dizer. Isolamos, dissecamos, esmiuçamos e só depois interpretamos. Fora do contexto, livremente e do modo que nos favoreça mais, óbvio. Depois, claro, fazemos disto um caso nacional e durante uns tempos, não se fala ou vê outra coisa. Típico...

Nem está em causa se a Sra. tem ou não razão, só apenas que o disse e, valha-me Deus, não podemos dizer nada que "ofenda" os meninos da Democracia!

Os americanos têm "outra pinta", nalgumas coisas. Nem gosto muito deles. Confesso que os acho uns broncos, convencidos de que são os donos do mundo e mais alguma adjectivação por aí. Mas tenho que admitir que têm outra cultura e outra vivência da cidadania que nós ainda não alcançámos. Talvez lá cheguemos.

Sobre as eleições lá no país deles

O "requinte" com que sabem criticar deixa aqui os nossos meninos da Democracia roídos de inveja e a olhar para cima, aparvalhados, para o vêem e ouvem de lá.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Os três patinhos: um feio, outro bonito e outro que não sei qualificar

Não sei porquê e acordo de manhã com esta dos três patinhos: um feio, outro bonito e outro que não sei qualificar, na cabeça. Está a ficar preocupante! Não sei se será da falta de luz do sol, sol só, e de tempo para a aproveitar se é mesmo a falta de outra coisa qualquer que não quantifico no meu actual juízo.

Saio, como sempre, glorioso em cima da minha Vespa, mais um dia pela frente a porra dos patos, já os ouço e tudo, continuam comigo, rasando os carros na ponte, apitando ao taxista que se julga dono da estrada e da vontade dos outros e, acho, repararam também no decote pronunciado da miúda gira que guia o seu BM de vidros fechados, presumo, com o AC ligado para nos proporcionar tanto esplendor logo pela manhã, sem presságio do frio que sinto cá fora. Tenho que me livrar disto, penso, mas como?

Nada como trabalhar, receber telefonemas, fingir-me de muito ocupado. Sim, sou só ocupado. Por momentos ou umas horas, não o sei bem, perco os patos. Bolas, a memória dos patos da Gulbenkian e das alusões que lhes fazemos tantas vezes, está a produzir os seus efeitos. Dizias-me que no horóscopo de hoje estava um dia calmo para os nativos do meu signo. E que o sonho que tive, sem patos (de onde raio terão vindo?), prenunciava sorte e reconhecimento, quiçá roçando a riqueza monetária que não ambiciono. Tudo num só dia? Já estou cansado. Eis que voltam os patos!

Dou por mim numa reunião, teria já almoçado e, pelo peso que sentia no baixo-ventre, teria sido bom. Recordo-me agora dos cogumelos com arroz e posta que enfardei alarvemente, do meu tupperware requentado no micro-ondas da empresa. Corrijo, no micro-ondas que nós compramos e que a empresa amavelmente nos deixa alojar nas suas instalações; obrigado patrãozinho (ou será patrõezinhos?), sempre poupamos uns patacos aqui que nos dás ao fim do mês.

Mas dizia, dou por mim numa reunião. Momento mais conceptual do que produtivo e acabo por me afastar inevitavelmente do assunto aborrecido e sem interesse, naquele momento. Talvez de imaginar que quando dali sair me espera o céu negro e uma cidade atarefada a regressar a casa ou dos bocejos que imito envergonhadamente, pelo cansaço de um fim-de-semana curto para tudo o que se quer fazer. Sei lá, que escolham a causa ou as duas! Os patos, neste sabe não sabe, velhacos, voltaram. Bolas! Bocejo é de tédio que à laia de tanto ter que pensar, só me ocorrem aves que grasnam. Nem contam, sempre me poderiam alegrar os longos momentos entediantes em que se me grudam aos pensamentos. Grasnam apenas. Não me alegram muito, por isso.

Livro-me enfim dos patos. Não sei como o fiz. Sei, agora, que até aqui os tinha esquecido algures no meu dia-a-dia. Cruzei-me com pessoas que olhavam para mim, perdidas no escuro que as envolvia, nos envolvia, apenas cortado pelos faróis dos automóveis e das luzes tricolores dos semáforos, ora passamos nós, os de quatro rodas, oram passam vocês os bípedes.

Gosto de pensar no que ocorre às pessoas ao caminharem, para mim, sem sentido, para elas por certo com destino, um meio e um final de caminho. E nos mais variados destinos. É um assunto recorrente, mas sempre me ocorre. E sempre acompanhado com o ditado, quem vê caras, não vê corações. Estenderia a vidas, preocupações, assuntos, desgraças, desencontros... sei lá. Passam por nós e partilhamos a breve existência de uma brisa que se cruza e trocamos, sem saber. De um desejo ingénuo que por vezes nos surge, de conhecer com quem nos cruzamos e sabermos o que o/a apoquenta ou o faz feliz. Mas há sempre algo que nos empurra e obriga a continuar, ignorando o desejo e o outro que passou por nós, sem sabermos sequer se pensa ou caminha vazio e tranquilo com a sua existência solitária. Acontece-me muito.

Olha, esqueci os patos todos. O feio, o belo e o outro que não sabia qualificar e continuo sem saber fazê-lo. Se um é feio e o outro é belo, são apostos. Lógica teria que, para não proporcionar tamanho decalage (gosto muito deste “palavrão”), o outro ficasse no meio e assim, fosse, nem feio nem bonito. Seria... assim-assim... Mas porque é que não pode ser bonito? E assim ficariam dois bonitos e um feio. Aumentaria o fosse... Temos sempre a mania de qualificar estaticamente as coisas. Estanque. E feio? Dois feios e um bonito?

É um bocado indiferente o que me parecem os patos. As pessoas também. Mas teimo sempre em tipificar as coisas. Todas têm que estar nos mesmos estanques subjectivos de qualificação que imponho. Eu é que! Eu é que sou!

De repente apanho um estaladão. Forte, diria viril, não fosse saber bem de onde não vem. Fico atarantado, sem saber se levei na face esquerda, na direita ou sequer se isso é importante saber. Desperto do torpor intelectual que estava com estas divagações. Perdi tudo. Insisto em perder, mesmo quando consigo amealhar alguma coisa. E, no meio desta dor, física, psicológica, sentida e infligida, ouço dizerem: estúpido, porque é que não olhas para mim? À minha frente ninguém... Olho ao redor... E estou sozinho!

De mim para mim mesmo, pergunto-me de onde raio saíram eles, os patos, logo de manhã? Onde me abandonaram eles, agora, com a mesma facilidade que se apoderaram de mim, pela manhã? Afinal, tenho uma mão marcada na face. Vermelha, vermelha.

Alguém foi!

sábado, 1 de novembro de 2008

Superego (o meu)

É estranho como já passaram oito anos.

Lembro-me tão bem...

Lembro-me que estava a chover. Esteve sempre a chover. Como se não só nós os mortais, como tu, te estivéssemos a dizer o Adeus, mas toda a terra. Pelo menos aquela que sorriu quando te viu pela primeira vez e que chorou, como eu, como nós, quando soube que nunca mais te veria.

Fazes-me falta, sabes? É quase um lugar comum, uma frase banal, um gesto que fica bem ser feito, mas é sentido. Sabes que é sentido. Faz-me falta ver-te, ouvir-te e saber que era amado tão incondicionalmente como sei que nunca mais o serei. Não, não me importo que assim seja. Importo-me sim que cá não estejas. Junto a mim, junto a nós. Mesmo que esse amor não fosse o mesmo e tivesse já esmorecido, queria-te aqui. Lá. Mesmo longe, tu de mim e eu de ti, sentia-me reconfortado, apoiado, querido, desejado. E tanto mais. Sim, eu sei que nunca esmoreceria, esse amor, mas custa-me menos pensar assim. Acho.

É duro sobreviver a, e viver coisas que sei que irias adorar partilhar comigo. Custa-me, saber que te encherias de orgulho. Muito mais que eu. E que não estejas cá para as passares comigo. Para tas contar. Explicar o que senti. E perceberes-me. Saberes do que estava a falar, eu de peito cheio, tu de alma serena, com a sensação, eu, de que era o primeiro ser humano a quem aquilo acontecia e, tu, sorrires. Benevolente. Afinal já tinhas passado por aquilo e muito mais, compreenderias bem o que te diria. Mas nunca me estragarias o momento glorioso e só meu. Sem rancor, nem desdém, nem mágoa por estar longe e ter tido a pertinência de o passar, só eu, longe, deixarias-me brilhar. E alegrar-te-ias com isso.

Lembro-me de sentir o vazio de estar na casa que tinha sido tua e ver os espaços vazios que tinhas deixado. Os significados que as coisas deixaram de ter, o sentido que os recantos escondiam e perderam, os destinos que os caminhos, sem ti, perderam. Custou tanto, sabes? Custou tanto imaginar-te ali, tantos e tantos anos, palmilhar contigo os caminhos e aprender os segredos, os ninhos, os pássaros, os nomes das ervas que destruía com a fúria de criança, por serem daninhas. Tudo tinha sentido. Se existia, é porque fazia falta. Então porque te foste? Fazes-me falta a mim!

Vê na pessoa que me tornei. Sentes orgulho? Gostava muito de o saber. Gostava ainda mais que sim. Olha para tudo o que eu já passei. Quando te foste era ainda um jovem cheio de sonhos e ideais, de ideologias puras e vontade de mudar o mundo. Agora sou um recém adulto, já com algumas mágoas e outros tantos dissabores, com menos ideais e mais conformismos e alguns radicalismos. Tenho já uma mão cheia de momentos maravilhosos, outra mão de outros dolorosos como nunca pensei passar, mas assim nos fazemos. Acho eu. É assim, não é?

Quem diria que já passaram oito anos. Oito! Como me lembro bem de tudo, tão bem, tão clara e nitidamente. Dos silêncios. Foi o que me custou mais, os silêncios. A ausência. O vazio. Como me enchias a alma, como me sabias e preenchias. E de repente, tudo desapareceu. Ficou só, o nada!

Fez hoje oito anos que a mesma terra que te gerou, te levou. Que desapareceste no escuro de um caixão, abandonado debaixo das pás de terra que te deitavam por cima. Tudo isso não foi suficiente para te levarem de mim. Nem naquele dia, nem nunca! Sempre senti por ti a mesma admiração de criança que nada compreende, mas tudo ama e tudo admira como facto incompreensível, mas fascinante. Fascinavas-me, sim. O teu espírito, o teu amor, a tua sintonia com a natureza. Paz. Diria, paz com a vida. Mas não te foste em paz, senti isso. Talvez por quereres ficar junto a mim? Talvez por não quereres abandonar tudo aquilo que amavas e te sentias amado. Lamento. Muito. Profundamente. Eu gostaria que ainda cá estivesses. Se chega...

Por tudo aquilo que sempre esperaste de mim, que sonhaste para mim, acompanha-me. Olha por mim. Sei que não sou o melhor dos seres, mas sou o teu neto, o único, sou assim e sei que me amavas quando cá estavas, ama-me agora também. Eu preciso. Tem orgulho em mim, está bem? Eu preciso que tenhas.

Já passaram oito anos mas eu continuo no mesmo dia chuvoso, triste e pesado. Não quero acreditar que já não estás comigo. Não quero mesmo! Não posso. Não consigo. Tenho tanto que te contar...

Olha por mim. Olha para mim.

Eu conto-te tudo, depois. Um dia.

Vais ver que não me esquecerei de nada!