segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Tachos, panelas, caldeirões!








Epá mexer nisto é chato, vamos antes aumentar os impostos!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Portugal, untitled



Quando num país se assiste à formação de filas terceiro-mundistas para adquirir dispositivos que sustentam uma norma ridícula, como no caso do pagamento das SCUTS, quando ouvimos – quem se dá ao incómodo de – um debate parlamentar como o que tivemos hoje de manhã, vemos que tudo está bem. Ou não estando bem, apesar de ficarmos com essa ideia ouvindo, mas sentimos que não é bem assim, pouca vontade há em exercer qualquer sentido prático e efectivo de mudança.

As pessoas gostam de coisas parvas e, pior ainda, apoiam-nas incansavelmente. No caso dos identificadores para pagamento das SCUTS – inventem outro nome, se faz favor, porque estas vias agora são pagas – as pessoas vão para as filas de madrugada, culpa da falência de um serviço que não consegue responder à nova e exponencial procura dos identificadores, obrigatórios para circular nas ditas vias e imprescindíveis ao cumprimento de uma norma que entra no dia a seguir. Em vez de protestar, reivindicar, pintar, fazer e acontecer, melhor, fazer valer o sentido de justiça que deveria basear a organização social em que vivemos, não, as pessoas acatam, alteram as suas vidas, prejudicam os seus trabalhos porque... a injustiça é assim, não podemos fazer nada, temos que acatar... Eu, se mandasse – felizes vós que eu não mando nada – faria o mesmo e seria igualmente implacável! Claro que não o faria, porque tenho sentido de justiça e nem esta medida equacionava como válida, mas pelo que as pessoas me mostraram... ficaria tentado a tomar a mesma cega medida de avançar com ou sem identificadores disponíveis. Quem não tem sentido de justiça, torna-se implacavelmente feroz e o problema tem que ser resolvido pelos futuros utentes, inocentes na ignorância de como fabricar e distribuir identificadores: se não tiverem um, terão multa!

Por outro lado, no debate parlamentar de hoje assistimos a uma salutar e corriqueira troca de acusações. O vosso partido é assim, o seu é assado, vocês quando lá estiveram fizeram isto e não aquilo, você é mentiroso, você não diz a verdade, os factos não são bem assim, a culpa é da crise, nós lutamos, vocês só criticam, os outros países, tiramos daqui e não colocamos ali, bla bla bla... Discute-se o mesmo, argumenta-se o costume enquanto a rádio grita e a televisão mostra a triste figura dos senhores engravatados que, acabada a argumentação exaltada, se cruzam entre abraços e palmadinhas nas costas, pelos corredores de um palácio que nos devia defender e representar.

"Sr. Motorista, leve-me a casa que estou estafado, preciso de descansar."

Se uns não nos representam, os outros não são representados, se os primeiros estão como sempre, os segundos se esforçam demais por estar (como sempre)... Está tudo bem? Como os analistas que não vêem as injustiças e desigualdades que ainda persistem e outras que são criadas no momento em que se anunciam as medidas e se apregoam as reformas e afirmam com forçada convicção que estas são as acções que têm que ser tomadas, que já deveriam ter sido tomadas, as pessoas, os eleitores, nós, não damos sinais de descontentamento, levantamento, inconformismo, não queremos nem tentamos perceber um pouco mais além, um pouco mais daquilo que nos injectam a toda a hora, o outro lado, mais...

"Ah, afinal sempre reduziram 10% a quem ganha mais... finalmente!"